sexta-feira, 2 de maio de 2014

Sobre completar o álbum da Copa - e outros atos

      Falta 1 mês para a Copa e não vi ainda as ruas pintadas de verde- amarelo, só vi o povo dizendo que NÃO VAI TER COPA! Mas sabemos que terá, a Copa dos mega-investimentos em estádios não concluídos e sem valia futura para o depois... da Copa, a Copa  superfaturamentos de obras,  a Copa das grandes empreiteiras,  a Copa das remoções de milhares de trabalhadores já está ocorrendo, a Copa da FIFA já está ocorrendo.

   A organização deste evento, tanto por parte da FIFA quanto do Estado Brasileiro, não tem a palavra diálogo e respeito em seu vocabulário. É um processo pronto e acabado, que não dialoga com as necessidades do povo que sediará esse evento de esporte, que já disse mais de uma vez que coloca como necessidade saúde, educação, transporte, mobilidade, saneamento básico, moradia, ambiente equilibrado, cultura e lazer em primeiro lugar.
            
Não sou da área, mas quando me remeto à palavra esporte, me vem na cabeça ideias de lazer, atividade física, bem estar, algo divertido, alegre, coletivo.  
          
Quando era criança me lembro, além das ruas pintadas de verde-amarelo, pessoas jogando bola e com um álbum de figurinhas na mão. E eu que nunca fui muito de futebol, me divertia acompanhando meu irmão e amigos nessa saga.  Afinal, quem não queria completar o álbum?! Crianças e adultos se reuniam nessa brincadeira: troca de figurinhas – umas mais valiosas que outras - o bate mão para virar as figurinhas, apostas, a corrida em banca de jornais para comprar mais pacotinhos, uma festa!  E curiosamente, quem ganhava o jogo, não se divertia mais.
           
E hoje? Fiquei sabendo esses dias por colegas de trabalho, que é possível completar o time da seleção espanhola comprando pela internet, o que me fez pensar: mas isso tem graça? E o processo todo de conseguir as figurinhas, que no fundo era o barato da brincadeira? É como se num jogo de futebol, combinássemos com o goleiro do time adversário quantos gols ele levaria. Para mim, isso não tem graça! Um produto pronto e acabado é no que se transformou a diversão, a imagem da conquista é o que diverte hoje. Não há diálogo com os demais colegas, não há mais cooperação e coletividade que a busca de novas figurinhas proporcionava.

           Não sou pedagoga, tampouco entendo de psicologia, mas fico imaginando como uma criança que completa o álbum de figurinhas comprando pela internet irá lidar com a frustração...  Quase ninguém conseguia completar o álbum na minha infância e isso não era ruim!
         Tal como o álbum das seleções - que tem várias figurinhas de patrocinadores pipocando nos pacotinhos, diga-se de passagem – a Copa da FIFA está pronta e acabada no pacote da Lei Geral da Copa. Ambos oprimem o processo, excluem o diálogo e mercantilizam a diversão.


        É a Copa dos Patrocinadores e não a Copa da Liberdade! 

(Ao lado poema de Carlos Drummond de Andrade)



Texto: Denise Vazquez Manfio 
Colaboração: Amélia D'Ascenção Vazquez