quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Crise hídrica em São Paulo - da água à lama

Muito tem se falado sobre a crise hídrica em São Paulo. Porém, pouco tem se feito, o cenário piora a cada dia. Depois das eleições, Campinas tem mais de 100 bairros sem água nesta semana. Mais do que lamentar, é importante se informar sobre a situação, para conseguirmos atuar de maneira efetiva.

Assisti esses dias uma palestra com os Profs: Julio Cerqueira César (USP) e Antonio Zuffo (UNICAMP), disponível aqui que pode contribuir muito com isso:

Abaixo segue os pontos que considerei mais importantes:

- Região Metropolitana de São Paulo (RMSP): 2ª maior metrópole do mundo, com 22 milhões de habitantes
- Região Metropolitana de Campinas (RMC): Pólo tecnológico, intensa atividade industrial e agrícola, alta densidade demográfica
- Bacia que abastece a RMSP tem pouca água naturalmente, por ser uma região de nascentes
- Por isso há a necessidade de transposição de água de outra bacia para a RMSP
- O Sistema Cantareira foi criado com este objetivo nas décadas de 70 e 80. É situado na Bacia PCJ - Piracicaba, Capivarí e Jundiaí - na região de Campinas
- Disputa entre a RMSP e RMC por água.
- Falta de chuva não é atípica, é normal do ciclo hidrológico.
- Deveria aguentar 8 anos de seca, mas por problemas de gestão só aguentou 2
- A escassez existe porque o aumento da população não foi acompanhado de aumento de reservatórios de água
- As tomadas de decisão foram adiadas: em 2003, 2004 o Sistema Cantareira atingiu o limite da sua capacidade e nada foi feito
- Em 2007 a Sabesp admitiu que a situação era gravíssima e o estado assumiu a gestão da água na RMSP (Sabesp não atua em todos os municípios)
- É provável que entremos em um novo período de estiagem (questões de ciclo hidrológico) e haja redução de 20 a 30% da vazão média de água na região sudeste.
- Necessidade de planejar novas fontes de captação
- Sistema São Loureiro: projetado na década de 60, deveria ter começado em 87
- A transposição desse sistema de 4,7 m³/s é insuficiente, porque só a redução prevista de 20 a 30% da vazão do Cantareira é de 7m³/s
- SABESP tem perdas 40% na rede de (da Estação de Tratamento de Água aos domicílios, perde-se na tubulação água potável) se caísse para 20% teríamos quase um novo Sistema Cantareira, aproximadamente 30m³/s
- Tóquio tem aprox. 5% de perdas
- Volume vivo: aquilo que está acima do nível, que pode ser captado sem bombeamento
- Volume morto: necessidade de bombeamento
- Neste caso do Cantareira é preciso fazer a dragagem do canal, que acaba misturando o lodo (que acumula poluentes) a água que é captada
- Risco da situação sanitária voltar a ser como era na década de 60: gravíssima e com poluição atmosférica altíssima também (Cubatão)
Fonte: G1*(Foto: Mateus Andrade/Arquivo Pessoal )
- Na Região de Campinas os pontos de lançamento de esgoto e captação de água para abastecimento são tão próximos que na prática, bebemos água de reuso
- Não temos nenhuma solução descrita para essa situação
- Não existe solução de engenharia para trazer água potável em menos de 7 ou 8 anos.
- Existe água em SP, mas água de má qualidade, mas que é possível de ser tratada e tornar potável, só que o custo é muito alto
- Crise hídrica causará problemas graves a saúde pública: aumento de doenças de veiculação hídrica e mais: queda na produção, desemprego, violência, etc.

- Alckimin tem TOTAL responsabilidade pela crise e rejeitou o plano de racionamento proposto pela SABESP. A condução do problema foi política e não técnica

Também deixo aqui o meu texto no Pensamento Verde sobre a questão.

E por último, para quem não se importar em ficar um pouco depressivo, diante do cenário apocalíptico,  indico esse texto aqui  muito bem fundamentado cientificamente. 

Seguimos na luta!

*G1




terça-feira, 17 de junho de 2014

A Copa do Mundo é nossa!

E os impactos ambientais decorrentes dela também. Mas os lucros são da FIFA e seus parceiros.
Pois é, além das remoções de milhares de famílias, condições desumanas de trabalho, mortes de trabalhadores nos estádios, palavras do nosso vocabulário virando propriedade da FIFA, dura repressão às manifestações, temos ainda muito de desrespeito ao meio ambiente.
A supressão de remanescentes florestais, construções sem Licenciamento Ambiental, o privilégio de uso de transportes coletivos em detrimento dos coletivos, são só alguns exemplos.

A íntegra deste texto está publicado aqui:

http://www.pensamentoverde.com.br/colunistas/copa-2014-o-meio-ambiente-jogado-para-escanteio/

Salve a seleção!


sexta-feira, 2 de maio de 2014

Sobre completar o álbum da Copa - e outros atos

      Falta 1 mês para a Copa e não vi ainda as ruas pintadas de verde- amarelo, só vi o povo dizendo que NÃO VAI TER COPA! Mas sabemos que terá, a Copa dos mega-investimentos em estádios não concluídos e sem valia futura para o depois... da Copa, a Copa  superfaturamentos de obras,  a Copa das grandes empreiteiras,  a Copa das remoções de milhares de trabalhadores já está ocorrendo, a Copa da FIFA já está ocorrendo.

   A organização deste evento, tanto por parte da FIFA quanto do Estado Brasileiro, não tem a palavra diálogo e respeito em seu vocabulário. É um processo pronto e acabado, que não dialoga com as necessidades do povo que sediará esse evento de esporte, que já disse mais de uma vez que coloca como necessidade saúde, educação, transporte, mobilidade, saneamento básico, moradia, ambiente equilibrado, cultura e lazer em primeiro lugar.
            
Não sou da área, mas quando me remeto à palavra esporte, me vem na cabeça ideias de lazer, atividade física, bem estar, algo divertido, alegre, coletivo.  
          
Quando era criança me lembro, além das ruas pintadas de verde-amarelo, pessoas jogando bola e com um álbum de figurinhas na mão. E eu que nunca fui muito de futebol, me divertia acompanhando meu irmão e amigos nessa saga.  Afinal, quem não queria completar o álbum?! Crianças e adultos se reuniam nessa brincadeira: troca de figurinhas – umas mais valiosas que outras - o bate mão para virar as figurinhas, apostas, a corrida em banca de jornais para comprar mais pacotinhos, uma festa!  E curiosamente, quem ganhava o jogo, não se divertia mais.
           
E hoje? Fiquei sabendo esses dias por colegas de trabalho, que é possível completar o time da seleção espanhola comprando pela internet, o que me fez pensar: mas isso tem graça? E o processo todo de conseguir as figurinhas, que no fundo era o barato da brincadeira? É como se num jogo de futebol, combinássemos com o goleiro do time adversário quantos gols ele levaria. Para mim, isso não tem graça! Um produto pronto e acabado é no que se transformou a diversão, a imagem da conquista é o que diverte hoje. Não há diálogo com os demais colegas, não há mais cooperação e coletividade que a busca de novas figurinhas proporcionava.

           Não sou pedagoga, tampouco entendo de psicologia, mas fico imaginando como uma criança que completa o álbum de figurinhas comprando pela internet irá lidar com a frustração...  Quase ninguém conseguia completar o álbum na minha infância e isso não era ruim!
         Tal como o álbum das seleções - que tem várias figurinhas de patrocinadores pipocando nos pacotinhos, diga-se de passagem – a Copa da FIFA está pronta e acabada no pacote da Lei Geral da Copa. Ambos oprimem o processo, excluem o diálogo e mercantilizam a diversão.


        É a Copa dos Patrocinadores e não a Copa da Liberdade! 

(Ao lado poema de Carlos Drummond de Andrade)



Texto: Denise Vazquez Manfio 
Colaboração: Amélia D'Ascenção Vazquez 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Direitos para 2014

No primeiro texto pro site que tenho contribuído com meus textos, me inspirei no Direito ao Delírio de Eduardo Galeano, que já postei aqui anteriormente. Permiti, então, delirar um pouco sobre questões relativas a meio ambiente.
Leia este texto na íntegra em: 

http://www.pensamentoverde.com.br/colunistas/desejos-2014-perspectiva-ambiental/

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Ele

Ele não é meu,
Ele é do mundo
E vem dançar comigo em plena madrugada,
Ele tem aquilo que todo mundo quer.
Porque quando está comigo faz o chão desaparecer,
Subo ao sete céus,
Voo de asa-delta
E sorrio.

Ele é do mundo e ninguém o pode ter.
Mas a tua força não se percebe,
Teus poemas, teus mistérios - quem os lê?
Em vão tento decifrar-lhe,
E o que chega a mim é só o que ele quer
E isso é só que me resta:
Deixo-lhe trançar-me as pernas,
Acelerar-me o peito e prender-me em teu corpo moreno.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Delirar é preciso

Um amigo meu indicou um vídeo como seus votos para 2014. Ele escolheu as palavras de Eduardo Galeano, escritor uruguaio autor de As Veias Abertas da América Latina e Os Filhos dos Dias.
E eu que tenho o vício de julgar, categorizar e organizar tudo, todas e todos, achei de uma sensibilidade incomparável as palavras deste homem, com as quais nunca tinha me deparado, mas que couberam tão dentro de mim, cortando-me a alma sem dor, parafraseando Tunai em Certas Canções (Milton Nascimento/Tunai).

Abaixo, segue o texto referido, mas quem o ler não pode deixar de ver o vídeo com o próprio Galeano.
É inspirador! Eduardo Galeano - O Direito ao Delírio


O Direito ao Delírio

Mesmo que não possamos adivinhar o tempo que virá, temos ao menos o direito de imaginar o que queremos que seja.

As Nações Unidas tem proclamado extensas listas de Direitos Humanos, mas a imensa maioria da humanidade não tem mais que os direitos de: ver, ouvir, calar.
Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar?
Que tal se delirarmos por um momentinho?
Ao fim do milênio vamos fixar os olhos mais para lá da infâmia para adivinhar outro mundo possível.
O ar vai estar limpo de todo veneno que não venha dos medos humanos e das paixões humanas.
As pessoas não serão dirigidas pelo automóvel, nem serão programadas pelo computador, nem serão compradas pelo supermercado, nem serão assistidas pela televisão.
A televisão deixará de ser o membro mais importante da família.
As pessoas trabalharão para viver em lugar de viver para trabalhar.
Se incorporará aos Códigos Penais o delito de estupidez que cometem os que vivem por ter ou ganhar ao invés de viver por viver somente, como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que brinca.
Em nenhum país serão presos os rapazes que se neguem a cumprir serviço militar, mas sim os que queiram cumprir.
Os economistas não chamarão de nível de vida o nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida à quantidade de coisas.
Os cozinheiros não pensarão que as lagostas gostam de ser fervidas vivas.
Os historiadores não acreditarão que os países adoram ser invadidos.
O mundo já não estará em guerra contra os pobres, mas sim contra a pobreza.
E a indústria militar não terá outro remédio senão declarar-se quebrada.
A comida não será uma mercadoria nem a comunicação um negócio, porque a comida e a comunicação são direitos humanos.
Ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão.
As crianças de rua não serão tratadas como se fossem lixo, porque não haverá crianças de rua.
As crianças ricas não serão tratadas como se fossem dinheiro, porque não haverá crianças ricas.
A educação não será um privilégio de quem possa pagá-la e a polícia não será a maldição de quem não possa comprá-la.
A justiça e a liberdade, irmãs siamesas, condenadas a viver separadas, voltarão a juntar-se, voltarão a juntar-se bem de perto, costas com costas.
Na Argentina, as loucas da Praça de Maio serão um exemplo de saúde mental, porque elas se negaram a esquecer nos tempos de amnésia obrigatória.
A perfeição seguirá sendo o privilégio tedioso dos deuses, mas neste mundo, neste mundo avacalhado e maldito, cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro. 

- Eduardo Galeano

Que em 2014 deliremos e que nada seja impossível de mudar! Feliz 2014!