quinta-feira, 1 de junho de 2017

Quinta-feira


Última que poderei largar a louça suja e pia sem você reclamar.
A última para eu me enganar e comer doces do armário sem você saber
Depois de tantas noites vivendo bem com sua voz, sua escrita, sua imagem na tela
Me deparo com tamanho estranhamento que é pensar em ter aqui pele pêlo e respiro.
O guarda-roupa nem tem tamanho para a roupa tua.
Estou aqui pensando que meus papeis espalhados pela mesa vão te reclamar.
Descobrirá de vez que ouço música pop
A cama estará sempre feita daqui pra frente. E de ombros ajeitados, coluna ereta sempre andarei.
Será a última vez que poderei esquecer de regar a pimenteira e a espada de São Jorge.
As tomadas não serão mais só minhas.
O café será feito com água à circular, no ponto de fervura.
Última poesia. Até agora.

domingo, 19 de março de 2017

Coisa boa

Sou eu que sinto as horas que não passam.
O nó na garganta da cidade que te mata, só de pensar.
O relógio marca paciência,
A caneta desabafa o turbilhão contraditório dessa linha torta e bamba entre confiar e amar.
Se o amor é uma coisa boa, por que com ele tudo fica mais difícil?
Não, eu não quero tolher seus caminhos,
Quero mirar o que a tua vista alcança,
Nadar em maré baixa, ouvir o silêncio dos pássaros e brisa leve,
Vestido e tênis na areia,
Dedos apertados pelas suas mãos.