terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Dona Neide

No bar do Seu Zé, Dona Neide nem descansa. Ela bota as empanadas de shimeji para assar, tira as tradicionais de frango com passas do forno, serve o delivery com porções congeladas e cede sua janta, uma salada em prato branco e raso, às moscas. Ela justifica: tem mais tempo de casa e por isso, mais trabalho. Serve de gelo um copo, suspira, enquanto os garçons brincam com as meninas das mesas. Ela coordena o balcão, troca a caipirinha de limão por uma de maracujá e volta a dar algumas garfadas em sua salada, de pé. Sai à 1h30 da manhã, mas justifica: mora aqui do lado. Interrompe sua janta mais uma vez para servir um refrigerante, mais uma original na mesa 4. Mas hoje tá tranquilo, justifica.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Essas meninas

Tudo o que nós queremos é que seja leve
Como a garoa que cai mansinha,
Que dispensa o guarda-chuva e, de repente
Nos molha por completo.
Não queremos um foagrá,
Apenas um ovo frito, alface, tomate, cebola,
Arroz com feijão diariamente.
Queremos que um vento de súbito nos envergonhe,
Os vestidos dancem, as mãos se entrelacem,
O riso nunca se perca e saia a caminhar no parque
Que o domingo não nos mate.
Queremos é esquecer a maquiagem e andar nuas,
Despidas de medo ou pudor.

Providas de voz e vontade.