terça-feira, 24 de novembro de 2015

Das culpas


Se aproximou sem pedir licença,
Roubou um caminho, um beijo, uma conversa desimpedida.
Encenou, falhou, reconheceu, voltou atrás
E pôs na mesa a melhor vestimenta,
O texto decorado, as palavras meticulosamente armadas,
As expressões, os próprios passos.
Depois disso amou. Todo o seu ser, como só poderia.
Contemplou o vasto vocabulário e as inúmeras formas de ser o que não se é.
Riu baixo, esperou e resolveu dançar, esporadicamente.
Retomou a face mansa, mas já não doce
E foi se juntar à sinceridade comedida.
Calculou palavras, comeu, chorou, dançou, riu e foi se embora num bater de portas.

 24/11/15

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

tímida

A verdade é que aquele moço, logo ali, no intervalo entre um breve pensar e outro, me intimida. Em sua presença, que tenho eu para contar diante de suas narrativas tão instigantes? Tudo será tão fugaz, tão raso. Nada será tão inebriante quanto sua eloquente semana, cheia de observações sobre a cidade que se desmonta para ele, a seu dispor. Ele a tem nos pés, no breve espaço de suas pedaladas.
09.11.15

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Decoupage


_Professora, não estou colando dele. Estamos em partes diferentes da prova. 
***

_Professora, tenho uma dúvida. - A aluna ao lado da minha mesa. 
_Diga. - Eu respondo. 
_ Ah, não sei explicar. Não sei qual minha dúvida direito. Já volto! 
Momentos depois eu pergunto: 
_ Já sabe qual sua dúvida? 
Da sua carteira, a aluna responde: 
_ Ah, professora! Já tirei, obrigada!






quinta-feira, 6 de agosto de 2015

O dia em que eu quis a PM

Depois de uma seção revigorante de lama verde no rosto, estava eu já deitada em minha cama, prestes a cair nos braços de Morfeu, quando começo a ouvir o som de alguém tentando abrir a fechadura de uma porta. Como tudo é silêncio à 1h da madrugada, cri que o ruido não era tão alarmante. Porém, alguns instantes mais tarde, o som eleva-se sobremaneira e resolvo ceder a minha curiosidade. Abrindo a porta de meu quarto, percebo que a fechadura que seria aberta era a de minha residência (!) e deparo-me com a lembrança de que só moro com mais uma pessoa e que dei boa noite a ela minutos antes e  esta, provavelmente, já devia estar em seu sono reparador.
Constatado isso, me questiono:

- Será um bandido tentando, ruidosamente, colocar nossa porta abaixo e arruinar nossas vidas com uma chave? (Não saberia ele que pela janela o desafio é menor e mais silencioso?)

Leve pavor toma conta de mim e clamo por minha amiga no quarto ao lado e assistimos juntas a maçaneta mover-se, mais uma vez. Interfone quebrado, fecho a porta de meu quarto e, sentada em minha cama, a futura segunda vítima do feroz malfeitor liga para o porteiro, que não atende, liga para um vizinho, que não atende. Encorajada, ligo eu para a PM (nunca pensei que teria que insistir para receber uma visita da PM, corro dela no geral) e nesse diálogo para anotar meu nome, denunciar o ocorrido, anotar meu endereço, encontrar meu CEP, descobrir que Vila Olímpia está cadastrada como Itaim Bibi, anotar o ponto de referência (fica a dica do waze) o homem ruidoso que arruinaria nossas vidas cessa suas investidas na porta e a luz do corredor se apaga e, ainda na ligação com a PM, desisto da viatura e eu me minha roomate nos encorajamos a descer e pedir socorro ao porteiro.

Ao abrir a porta, nos deparamos então com o indivíduo que temíamos: nosso vizinho (o que pedimos ajuda) encontrava-se esparramado na escada a frente, ligeiramente embriagado e a chave de seu apartamento, 3 andares acima, em nossa porta.

Com andar vacilante, acertou em cheio nosso sofá e só saiu com a ajuda de nosso porteiro, que nos socorreu corajosamente!

Dica: Exijam um interfone que funcione em seus apartamentos.

sábado, 9 de maio de 2015

Correspondências

Quando se ama
Não se perde nada,
Ainda que se dê a alma
Completamente entregue ao outro.
Não se sofre nada,
Por mais que se viva sob constante tormenta,
Constante vigília.
Não se perde tempo,
Não se secam as lágrimas,
Não se morre em nada.
Amor é fonte viva que que reanima cada respiro
É paciência e raiz, é sombra fresca,
É o entardecer.
Não importa se há correspondência,

Amor é árvore dentro de nós.
(09.05.15)

terça-feira, 21 de abril de 2015

Da frebre

O vinho é bom,
A sede é melhor ainda.
Despedir é bom,
Melhor é a solidão de quem fica.
As tardes são boas,
O feriado chuvoso é melhor ainda.
As gotas de chuva,
A corrida, o passo com pressa.
As cartas de amor são doces,
Muito melhor são as cartas de despedida.
Sentir dor é bom,
Escrever, esquecer é melhor ainda.

(21/04/15)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Impeachment da Dilma



Hoje uma estudante me disse:
- Professor, o que o senhor acha do Impeachment da Dilma?
- Acho que não existe impeachment, existe golpe.
- Mas o senhor não acha que tá uma roubalheira?
- Sim, acho. E acho que os ladrões têm que ira pra cadeia, por isso a investigação está acontecendo.
- Mas a Dilma não tem culpa?
- Não sei, as investigações vão dizer. Mas me diz uma coisa: E o caso da Alston? E o Antônio Anastasia? Desses você não pede impeachment?
- Alston? Quem é esse?
- Não é esse, é essa. Uma empresa que superfaturou mais de 500 milhões no metrô de São Paulo, governo do PSDB.
- Ah, não sabia.... Mas eu sou a favor do Impeachment.
-Tudo bem, se você concorda com Temer e Cunha na condução do país.
- Temer e Cunha? Quem são esses?
- Já vi que você tá sabendo muito sobre o impeachment!
- Eu vi no Tv Revolta, uma página do face que tá bombando.
- Ah, a página patrocinada pelo Álvaro Dias?
- Quem é Álvaro Dias?
- Um cara muito "honesto" e amante do povo brasileiro. Deputado do PSDB envolvido até com trabalho escravo.
- Mas ontem eu vi no Jornal Nacional que foram mais de 200 milhões!
- Sim, desde 1996!
- Então! Desde o Lula, professor!
- Não, em 1996 o presidente era o FHC, do PSDB.
- Sabia não!
- Professor, já percebi, você é petista, né?
- Não, não sou petista. Eu apenas procuro me informar e não ser massa de manobra da TV criada pela Ditadura Militar.
- Que canal, professor?
- A Globo, que sempre apoiou a Ditadura.
- Mas agora a Globo tá mostrando as coisas!
- Sim, mostrando o que ela quer, ou seja, mostrando somente o que quer que vejamos.
- Ah, professor, fala a verdade, o senhor é petista, não é?
- Não preciso mentir, não sou petista.
- Mas porque o senhor defende a Dilma?
- Não estou defendendo a Dilma, estou apenas dizendo que não quero ser vaquinha de presépio da mídia. Se é pra protestar, proteste também contra o PSDB, pois o caso da Alston é maior do que o mensalão.
- Sabia não... O senhor vai apoiar o impeachment?
- Só se você me responder quem é Temer e Cunha, os que assumiriam.
- Não sei, professor.
- Tá bom, então pesquise, leia e deixe de ser manipulada pela mídia.
- Ah, professor, o senhor é petista mesmo.
- Não vou insistir. Se pensa isso, tudo bem.
- Vou nessa, professor. Tenho que lutar pelos meus direitos!
- Vá com Deus! Que Ele te ilumine e um dia você aprenda um pouco sobre história, política e não seja tão manipulada.
- Vou nessa. Fora Dilma! Impeachment já!
---- x ------
Não sabe o que é impeachment, nem que isso é uma manobra golpista após 3 meses de uma eleição onde milhões de brasileiros escolheram democraticamente, através do voto secreto sua Presidenta.
Não sabe quem é Michel Temer, nem Eduardo Cunha.
Não sabe a história da Globo e da grande mídia, nem entende os interesses envolvidos nas suas "notícias".
Não sabe nada sobre o caso Alston, nem outro caso de corrupção tucana, nem nada sobre a "privataria tucana".
Não sabe nada, nem mesmo o nome do ex-Governador de Minas Gerais.
Não sabe nada de nada e se acha "rebelde" buscando informação numa página financiada por um deputado do PSDB envolvido com trabalho escravo.
Como dizem por aí: sabe de nada, inocente!
[by Disney Lenon]

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Não rima

Desencantei,
Cansei de te esperar pra dormir,
De conchinha e cafuné,
Ou alguma grande aventura na noite metropolitana,
Regada a letreiros de neon, jaqueta jeans e botas,
Som alto na madrugada, alguns goles de cerveja
Ou qualquer outra bebida gelada
Que não nos fizesse dormir.

Cansei do teu discurso neo-blasé meio cult,
De sim meio não em tom de talvez.
A boca pede e clama,
Os astros a provocar,
O que eu quero é não precisar parar,
É movimento. Movimentação.
Não tô na tua dança.
Quero a serpentina,
Quero as marchinhas, o confete,
O brilho, a purpurina.
Gosto de cair na pista
E você não é tudo isso que tá no jornal.
(E essa poesia nem será publicada

É chata como você, com essas rimas forçadas). 

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Reconhecendo sujeitos

Depois das festas de final de ano, iniciamos 2015 e, apesar do ditado de que o ano no Brasil só começa depois do carnaval, várias classes de trabalhadores trabalham como nunca neste período. É o caso das catadoras e catadores de materiais recicláveis, já que o aumento na produção e consumo (especialmente no Natal), acrescentam consequentemente a quantidade de materiais recicláveis no mercado da logística reversa. E é também, neste momento que os preços pagos por estes materiais despencam.

Além das longas jornadas de trabalho, que são maiores nesta época, são diversos os riscos de saúde nesta profissão. Tudo isso em troca de baixos salários, poucos ou nenhum direito trabalhista. 

O texto na íntegra está aqui

                         Reciclar é preciso, reconhecer catadoras e catadores também!
As cooperativas são compostas majoritariamente por mulheres.