Recebi ontem um vídeo num grupo de whatsapp de
amigos, reconheci de imediato a figura de meu colega.
Cássio é meu bixo, entrou um ou dois anos depois de mim no
curso de Tecnologia em Saneamento Ambiental e logo se enveredou pelos movimentos. Lembro-me de ter ficado chateada com a
conversa do grupo à qual ele e duas amigas pertenciam: preferiam que eu não
participasse da chapa para as eleições do Centro Acadêmico, por ser associada a
uma rudesa e agressividade que não era muito a pegada naquele momento. Fui ser
comissão eleitoral com um amigo e a Chapa Cativar foi a vencedora das eleições de
2009. Depois que me formei, perdemos o
contato.
Apesar do país continental, de maior biodiversidade e biomas
incomparáveis, o movimento ambientalista no Brasil não é tão grande. Mas assim
como alguns poucos amigos, Cássio rompeu a bolha de São Paulo e foi atuar na
Amazônia. Espantosamente a região também é detentora da maior reserva de água
subterrânea do mundo: Alter do Chão. Mas o que salta aos olhos são os rios
caudalosos como o Negro, Madeira, Amazonas, Tapajós e tantos outros.
Foi no rio Tapajós que Cássio conheceu de perto o garimpo de
ouro, ilegal, insalubre e muito lucrativo, que se intensificou na região desde a década
de 1970. Cássio esteve ao lado do povo Munduruku, na luta contra esse projeto assassino.
Isso porque, para sua extração é utilizado o mercúrio (que usávamos em
termômetros e quando quebrávamos nossa mãe ficava desesperada) que evapora à temperatura ambiente e a doença associada a alta exposição é o Mal de Minamata. Nesse tempo
em que esteve na região, Cássio se intoxicou com mercúrio gravemente.
Mas não é só o garimpo que adoece. As barragens para hidrelétricas
são outro importante fator de contaminação, pois processos bioquímicos agravados
pelo longo tempo de reservação de água, transformam o mercúrio inorgânico em
metilmercúrio, sua forma orgânica, que entra na cadeia alimentar e que se
bioacumula, isto é, aumenta de concentração conforme avança na cadeia. Exemplificando: peixes pequenos se alimentam pouco e se contaminam um pouco, peixes maiores se alimentam de muitos peixes pequenos e se contaminam
mais e o ser humano come muitos peixes grandes e portanto, absorve mais
mercúrio.
Mas não é só Cássio que adoece. Em uma pesquisa realizada
pela Fundação Oswaldo Cruz, ao analisar mais de 200 amostras de cabelo de índios
yanomami e ye’kuana de 19 aldeias, verificou-se que em algumas regiões até 92%
apresentavam contaminação por mercúrio. Em toda a região amazônica se consome muito peixe.
Esse crime silencioso é cometido por grandes empresas e
consentido pelo Estado, mas não pode ser ignorado por nós!
Aprendi o que é
cativar numa antiga canção ensinada a mim quando criança: “Cativar é amar, é também carregar um pouquinho da dor que alguém tem
que levar. Cativou, disse alguém, laços fortes criou, responsável tu és pelo o
que cativou”
Cássio pertencia a gestão do Centro Acadêmico de Tecnologia Cativar e essa canção agora não me deixa dormir. Porque é preciso fazer mais.
Não sei bem o que fazer, mas sei que vamos fazer.
Não sei bem o que fazer, mas sei que vamos fazer.
Referências: