terça-feira, 26 de outubro de 2010

diálogos

na seqüência, copio alguns emails trocados com o Marco da Rudra Tecnologia Sustentáveis:

Denise:
o que vocês entendem por sustentabilidade?

Marco:
O Construção Eficiente é um produto da Rudra Tecnologias Sustentáveis.  A Rudra desenvolve softwares para novos modelos de negócios, dentro da concepção de um capitalismo natural.  Acreditamos que a consciência ambiental apenas começou a ser despertada na humanidade e, por uma necessidade de sobrevivência da espécie humana, praticamente todos os processos produtivos atuais deverão se adaptar nos próximos anos.
Nossa missão é transformar o discurso de sustentabilidade em prática através de produtos e processos inovadores para segmentos considerados estratégicos, sendo um deles, a construção civil.
 
Em um levantamento feito com nove mil consumidores de diversos países, inclusive o Brasil, conduzido pela Penn, Schoen & Berland Associates (PSB), constatou-se que apesar de a maioria dos consumidores em todos os países pesquisados acharem que produtos verdes custam mais, brasileiros e indianos consideram que o maior empecilho para sua compra é a falta de opções.
O portal Construção Eficiente vem ao encontro da necessidade dos consumidores conscientes em encontrar opções ecoeficientes. Temos total consciência que a sustentabilidade na indústria da construção civil é uma utopia, mas acreditamos que é possível contribuir para redução do impacto ambiental através da promoção e distribuição de novos produtos e serviços que tragam menor impacto ambiental com relação aos similares de mercado. Esse é o papel do Construção Eficiente.

Denise:
Agradeço as informações. Mas, eu não acredito em desenvolvimento sustentável no sistema capitalista, acho absolutamente incompatível.

Marco: 
Particularmente, gosto de escutar pontos de vistas interessantes. Conceitualmente, acredito no tripé da sustentabilidade que orienta para um desenvolvimento socialmente justo, economicamente viável e ecologicamente correto. Acredito no equilíbrio e interferência mínima na natureza. Agora, falando com uma visão de empreendedor que sou, enxergo oportunidades de novos mercados orientado para preservação, manutenção e recuperação dos recursos naturais, onde podemos gerar mais empregos, conhecimentos e qualidade de vida. Vejo que o grande desafio é manter o crescimento econômico dentro de novos padrões de consumo que o Planeta suporte, pois já sabemos que precisaríamos de mais de uma dezena de planetas Terra para manter os padrões atuais com a população que temos.

Denise:
Como me deu liberdade em abordar o assunto a partir de uma perspectiva particular, estou lhe enviando um texto de um profº da Unicamp: Esse texto é um esclarecimento sobre o porquê eu realmente discordo (em partes) da sua opnião, principalmente no que tange ao crescimento econômico. Se não tiver interesse em ler o texto, tudo bem, mas acredito que se disponibilizar um tempo relativamente pequeno, conhecerá uma perspectiva que vai além das manchetes de jornal e da mídia massificada que nos prega a mesma ideologia todos os dias, faço um convite ao sr para conhecer uma abordagem diferente das demais.

Marco:
Claro que concordo com o Castillo quando conclui "O Estado, em todos os seus poderes e escalas, tem que tomar a frente dos problemas ambientais e sociais, conjuntamente."
O fato é que o Estado se mostra reativo e ineficiente e que as ONG's e empresas privadas têm tomado a frente.
Agora, é um pensamento ingênuo desconsiderar as ações do mercado. As novas oportunidades no chamado "negócios verdes" é um adaptação do capitalismo criado na fase mercantilista onde se pensava que os recursos naturais eram ilimitados. Negócios verdes propõe modelos de negócios e novos fluxos de capitais. Por exemplo, não é simples mudar uma matriz planetária movida a combustível fóssil do dia para noite. E não se pode deixar de presitigiar ações como a da Alemanha que pretende utilizar 100% de energia renovável dentro de 40 anos. De fato Desenvolvimento não combina muito com sustentabilidade, mas temos que achar uma solução. A humanidade está aprendendo. Acredito que as próximas gerações pagarão um preço muito caro pela nossa ignorância e negligência sobre os impactos ambientais.
Acredito que precisamos de lideres conscientes tanto no Estado, quanto nas empresas e nas escolas. Consciencia é uma semente que temos que plantar nas mentes de cada pessoa e existem níveis de consciencia. O ser humano tinha a conexão com a natureza e ser perdeu. Agora temos que reaprender. Infelizmente, acho que é tarde demais. Vou fazendo minha parte, dentro da minha limitada consciencia ambiental e plantando a semente da consciencia, dentro da minha capacidade.

Denise:
Quanto ao fato de que o Estado se mostra reativo, concordo, plenamente, mas diante disso o que não podemos é negá-lo e deixar que Organizações Não Governamentais tomem a frente e fragmentem o debate da questão ambiental, não discordo de que podemos e devemos criar alternativas para o sistema de técnicas que aí estão e que degradam o ambiente em que vivemos, em que o homem é ativo e passivo ao mesmo tempo. Marco Aurélio, eu tenho como formação inicial Tecnologia em Saneamento Ambiental, algo extremamente ligado aos princípios que você acredita e que pratica em seu ambiente de trabalho, mas ao longo dos 4 anos de graduação, eu percebí que todo esse debate pragmático e fragmentado da questão ambiental não é suficiente para a solucionar os problemas que o homem criou. É como se um médico fosse tratar somente dos sintomas da doença e não eliminar e nem querer saber quais são as causas e qual é a doença, somente a remediação por via das técnicas não basta para a resolução dos problemas que estamos diante hoje. A chamada crise ambiental, ao meu ver, não é uma crise porque na verdade nunca na história moderna da sociedade, ou seja, a capitalista, tivemos um equilibrio, o capitalismo em sua essência é desigual e desequilibrador, afinal, o lucro é a estrutura do sistema e é a chance de alguém ganhar e outro perder, isso é o lucro. Sendo assim, vivemos numa consequência desse sistema, que convenientemente chamamos de "crise". Outro ponto que para mim é essencial: o meio ambiente não exclui a sociedade que o penetra, interage e  o forma. Portanto, quando digo que temos que mudar de sistema político-econômico e social para enfrentar e solucionar verdadeiramente e não aparentemente os problemas ambientais, incluo a miséria, a pobreza, as condições de vida do homem, que tem a relação de dominação da natureza na nossa sociedade.

Deixo algumas perguntas para a reflexão:

Os dados nos mostram que o desmatamento da Amazônia é rentável, dá lucro, e que a recuperação de pastagens degradadas custa o dobro do que desmatar, como fazemos então, diante desse impasse, quando o centro da sociedade é o dinheiro e não o próprio homem?
O Estado pode investir na recuperação e dar incentivo fiscal, estímulos financeiros para os pecuaristas e agricultores?
Economistas ecológicos vão avaliar o valor daquele bioma e mostrar aos grandes empresários que deixar esse bioma, que é um espaço extremamente antrópico, (diante das populações que vivem lá e interagem na floresta, modificando e adequando a floresta as suas necessidades)?
Teremos que convencer os empresários a não degradarem o ambiente que por décadas e séculos foi o habitat de populações que, por não possuirem a moeda de troca vigente, são todos os anos, expulsos de suas terras?
Tudo deve ser convertido em dinheiro? A subjetividade em que estamos imersos não pode ser convertida em dinheiro, não há equivalência, o direito a terra (Estatuto da Terra de 1964),  “a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana” como nos diz a Política Nacional de Meio Ambiente do Brasil será assegurada para todos ou somente para aqueles que tem a moeda de troca? Vivemos num Estado de Direito ou de Bens?
Você me disse que temos que achar uma solução, pois bem, eu lhe digo que para mim, a solução é centralizar o homem e não o lucro.
A verdadeira consciência nos mostra que coletivismo é a chave para a resolução dos problemas que assolam a humanidade.

Marco:
Acho que nosso papo vale um post num blog e compartilhar com o coletivo! O que acha?

Denise: postado.

Um comentário:

  1. Como as pessoas não enxergam o antogonismo entre desenvolvimento e sustentabilidade, capitalismo e preservação ambiental. Um sistema que sobrevive às custas da exploração (pessoas e ambiente), que transforma pessoas e ambiente em coisas chamando-as de recursos - humanos e naturais - para servi-lo, não pode ser "sustentável".

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